segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Criado em orfanato, Claudinei Quirino volta ao passado em visita ao Haiti

Depois da visita, Claudinei soube que seria pai deum menino(Foto: João Gabriel / Globoesporte.com)
Quieto em um canto, Claudinei Quirino ouvia a música evangélica “Entra na minha casa”, de Regis Danese, com um coro de 52 crianças de um orfanato em Croix-des-Bouquets, distrito ao lado da capital Porto Príncipe. Ao contrário dos outros atletas que participam da Jornada Haitiana do Esporte pela Paz, o medalhista de prata nos Jogos de Sydney, em 2000, apenas olhava. Criado em um orfanato no interior de São Paulo até os 15 anos, o ex-velocista não soube como agir quando um soldado brasileiro foi ao seu lado com duas meninas no colo. Saiu de perto e chorou. Suas lembranças daquela época estavam todas de volta. No orfanato Soldadinho da Paz, metade das crianças perdeu toda a família no terremoto que destruiu parte do Haiti em janeiro do ano passado. Ajudado por alguns soldados brasileiros desde 2004, o lugar tem até uma frase em português escrita em uma das paredes: “Até aqui Senhor nos ajudou”. Na tarde de sexta, Quirino participou de uma visita ao local e se emocionou. - Às vezes, essas lembranças adormecidas voltam. Como quando os soldados estavam dando bexigas de ar para as crianças e eu lembrei de como eu gostava de brincar com isso. Você acaba lembrando de um monte de coisa. A vontade que você tem é de dar todo o dinheiro que você tem para aquelas crianças. Claudinei chegou ao Haiti na última terça-feira. Desde então, tem visto a dor e a pobreza de um povo ainda longe de se recuperar do desastre natural e vítima de epidemias e problemas políticos constantes. Ainda assim, se surpreendeu pelo sorriso das crianças durante a visita ao orfanato. - Eu achava que tinha conhecido muita coisa nesse mundo. Mas aqui é tudo diferente. Vi pessoas morando em um cemitério porque era o único lugar que conseguiram ficar. Vi gente tomando banho com água do esgoto. É para o cara pensar sobre o que está fazendo da vida. Mas no orfanato, estava todo mundo sorrindo. O gostoso é isso. Ninguém queria nada, ninguém pediu nada. Elas só queriam carinho. Era como se eu olhasse para trás. Foi emocionante. Na saída do orfanato, Claudinei permaneceu calado. Ligou seu celular e ficou de cabeça abaixada, ouvindo a música “Halo”, da Beyoncé. À espera de uma ligação da mulher para saber o sexo de seu segundo filho, parecia ansioso. Foi então que, no caminho de volta para o batalhão, recebeu a notícia: Ana Clara, de 3 anos, em breve terá a companhia de Cauet. Ou Enzo... - Fiquei emocionado (ao saber que teria um menino). No orfanato, vi um menino idêntico a mim. É inesquecível.

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